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  • Foto do escritorRonei Silveira

AS HISTÓRIAS POUCO CONHECIDAS DE MULHERES GRANDES INSTRUMENTISTAS DO JAZZ

Muito antes do rock e do blues, o jazz já havia sido bastante injusto com as mulheres. Muito de seu protagonismo está centrado na voz e no piano, com nomes como Billie Holiday, Ella Fitzgerald e Nina Simone lembradas como algumas de suas maiores referências.

Se nos dias de hoje histórias de Louis Armstrong revolucionando o estilo de tocar solo e Count Basie redefinindo o papel das big bands da era do swing atraem públicos variados para conhecer um pouco mais da história do jazz, por outro rola muita obscuridade – principalmente quando se trata de entender melhor como as mulheres foram conquistando o espaço no gênero.

Você pode argumentar que o jazz não tem a força do passado, mas quando se trata de mencionar mulheres que estão na linha de frente, o volume é bem maior do que antes.

Conhecemos mais as que tocam hoje do que se conhecia antigamente. De Jane Ira Bloom a Mary Halvorson, passando por Matana Roberts, Susana Santos Silva, Anat Cohen, entre muitas outras.

Mas, e quanto às grandes instrumentistas do passado? Há muitas histórias de preconceito envolvendo ícones irredutíveis do jazz.



A trombonista Melba Liston, que tocou com feras como Randy Weston, Dizzy Gillespie e Dexter Gordon, chegou a dizer que dentro de um ambiente tão inóspito quanto o jazz era preciso “se provar que era melhor para si mesma 100 vezes mais do que qualquer outro homem faria”. Isso lá nos anos 1940.



A pianista Mary Lou Williams, uma das grandes referências no instrumento para Thelonious Monk, chegou a receber um convite do empresário Joe Glaser para tocar com Louis Armstrong alguns anos depois de talentosos como o pianista Earl Hines e o trombonista Jack Teagarden terem repaginado os All Stars do trompetista.

Quando Mary Lou questionou como seria essa colaboração, Glaser foi direto: “você sabe que tem um estilo, que precisa ser mantido…”.

Sua recusa para tocar nos All Stars de Armstrong foi uma das decisões mais sábias de sua carreira: ela se tornou a primeira mulher a ser realmente considerada uma “gigante do jazz”. “Ninguém pode pôr algum estilo em mim”, disse ela à New Yorker certa vez. “Mudo a todo tempo. Experimento com o que tá rolando, ouço o que as pessoas estão fazendo. Eu até mesmo vou um pouco adiante deles, como um espelho que mostra o que vai acontecer em seguida”.

Foi assim que ela colocou o Kansas no mapa jazzístico nos anos 1920, ajudou a dar vitalidade a vários grupos da era do swing, participou da cena do bebop e se tornou professora de orquestras de jazz.


Antes do contato de Mary Lou com a banda de Louis, houve outra mulher que influenciou (e, principalmente, enciumou) bastante o trompetista de Nova Orleans: Lil’ Hardin Armstrong.

Ela havia tocado piano no pioneiro grupo de King Oliver (mentor de Louis) e é considerada por muitos especialistas uma das primeiras mulheres reconhecidas no jazz.



Depois da II Guerra Mundial, muitas big bands foram dissolvidas, já que alguns dos instrumentistas eram obrigados a se alistar no Exército e se tornarem combatentes. Nesse contexto, surgiu uma pequena (e desconhecida) cena de mulheres bandleaders em dois polos: de um lado, os brancos norte-americanos que gostavam de um swing piravam com a bela Ina Ray Hutton, que agitava Chicago com as Melodears ainda antes da guerra, nos anos 1930.



Por outro, havia o som pioneiro de The Darlings of Rhythm e as louváveis The International Sweethearts of Rhythm, que tocaram ali no começo da era do rádio, levando adiante a estética do swing na era pré-bebop.


A tendência era que cada vez mais os grupos fossem compactados a partir dos anos 1940, o que favoreceu o desenvolvimento estilístico de Dizzy no trompete e Charlie Parker no sax-alto para o bebop. O guitarrista Charlie Christian era o equivalente aos dois na guitarra e, quando era jovem, Mary Osborne prestou atenção naquela intensidade de variação de notas, antes de se tornar ela mesma uma das maiores guitarristas que o jazz já teve.

Alguns anos mais tarde, outra guitarrista levou a técnica para outra direção. Mesmo pouco conhecida, Emily Remler tornou-se referência por modelar entre Wes Montgomery e Charlie Byrd nos anos 1980, chegando a excursionar com a brasileira Astrud Gilberto.



Na família dos metais, Valaida Snow foi considerada a “rainha do trompete” nos anos 1930. Uma experiência traumatizante, porém, impediu que ela prosseguisse sua carreira: numa turnê na Dinamarca, em 1941, ela foi pega pelos nazistas alemães que tomaram o país e considerada prisioneira por ser negra, mulher e jazzista (ritmo considerado subversivo pelo partido de Hitler). Um ano depois ela conseguiu sair de lá, mas, segundo o historiador Scott Yanow, “jamais se recuperou emocionalmente da experiência”.


Mais desconhecida ainda é a história de Clora Bryant, que teve que assumir vocais para lançar em 1957 o álbum Gal with a Horn, que de certa forma ofusca sua técnica no instrumento. Sua versão de “Tea For Two”, porém, mostra que Clifford Brown e Roy Eldridge certamente devem ter admirado essa trompetista do Texas, que também tocou com a International Sweethearts of Rhythm.



No campo do free-jazz a cantora Linda Sharrock ficou bastante conhecida por ser a mulher que estampa o disco Black Woman (1969), do então marido Sonny. Entretanto, ela teve uma carreira pouco explorada e testou sons mais eletrificados.



Outra esposa conhecida é Alice Coltrane, que fez da harpa uma peça tântrica em discos fabulosos como Universal Consciousness (1971) e World Galaxy (1972).



Quando se fala em mulheres no jazz, há uma riqueza sem fim de histórias. Como a da talentosíssima Hazel Scott, que sabia tocar baladas, blues, peças eruditas e solos cheios de swing no piano, levando sua técnica em filmes de Hollywood e chegando a se tornar a primeira americana negra a ter um programa de TV no começo dos anos 1950.



A saxofonista Peggy Gilbert foi outra jazzista a fazer carreira em Hollywood, tocando swing por mais de 70 anos.



Ah, e vale registrar o nome de duas pianistas fenomenais: a californiana Joanne Brackeen, que chegou a tocar com McCoy Tynner e Chick Corea, mas desenvolveu um estilo próprio que misturava clusters, swing, bop e post-bop ao longo de sua carreira solo, iniciada na segunda metade dos anos 1970. Se hoje conhecemos o Japão por ser um reduto de ótimas pianistas, muito do crédito deve ser dado a Toshiko Akiyoshi, primeira mulher japonesa a ser aceita numa universidade musical norte-americana. Ela lançou seu primeiro disco em 1953 e continua tocando como se o tempo não passasse.



Fonte das Imagens: Google Imagens

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